Resenha: Niketche | Paulina Chiziane | Companhia de Bolso
"...Quero libertar a raiva de todos os anos de silêncio. Quero explodir com o vento e trazer de volta o fogo para o meu leito, hoje quero existir."
Nossa protagonista e narradora é Rami, mãe e esposa de Tony. Após 20 anos descobre que o marido tem quatro outras mulheres e vários filhos. Reúne estas mulheres e de rivais, constrói relações que num primeiro momento o leitor pode não conseguir entender (e aceitar). Rami mostra que com união é possível virar o jogo e mudar a sua história.
Uma trama muito interessante e diferente, que me deixou chocada, brava, inconformada, mas que também me fez rir, me deixou muito curiosa e me trouxe reflexões importantes. O livro também aborda questões de consciência social e cultural. O papel da mulher, a diferença de status (ser divorciada, viúva, a esposa, a primeira esposa...) é bem explorado pela autora.
Paulina foi a primeira mulher moçambicana a publicar um livro. É uma excelente contadora de histórias e é assim que ela gosta de ser apresentada. Dona de uma ótima escrita, fluida e interessante, dosa com sabedoria humor e crueldade. A aspereza de uma sociedade extremamente cruel com as mulheres, um patriarcado que aceita a poligamia, que exalta cada nascimento de menino e lamenta o da menina.
Capa bonita, de Malangatana, que foi um artista plástico e poeta moçambicano. Foi mantido o português de Moçambique. A edição da Companhia de Bolso é simples e prática, só não gostei do glossário ficar no final. Eu prefiro quando vem no rodapé, pois morro de medo de abrir na última página e ler um spoiler do final :(
Fiquei impressionada com a sua história e quero ler os outros livros dela. Não foi por acaso que ganhou no ano passado, o Prêmio Camões, um dos maiores prêmios literários mundiais.
Recomendo! Você leu ou quer ler? Me conta!
Paulina Chiziane nasceu em Manjacaze, Moçambique, em 1955. Estudou Linguística na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo (capital do país), mas não concluiu o curso. Atualmente vive e trabalha na província de Zambézia.
Ficcionista, publicou vários contos na imprensa portuguesa e moçambicana. Ganhou notoriedade e projeção em seu país ao publicar o primeiro romance moçambicano escrito por uma mulher, com o livro "Balada de Amor ao Vento" de 1990.
Criadora de enredos impecáveis, Chiziane afirma: "Dizem que sou romancista e que fui a primeira mulher moçambicana a escrever um romance, mas eu afirmo: sou contadora de estórias e não romancista. Escrevo livros com muitas estórias, estórias grandes e pequenas. Inspiro-me nos contos à volta da fogueira, minha primeira escola de arte."
Leitura #17 de 2022
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