Resenha: Rotina de Ferro | David Grinberg | Planeta de Livros
Eu ADORO e quando soube deste lançamento, senti que precisava ler este livro. Foi uma leitura inspiradora e muito forte.
Gostei muito deste livro! No começo estranhei e estava incomodada com a fixação de David para participar do último seu último Iroman antes de iniciar o tratamento, desaconselhado pelos médicos e deixando a família cheia de preocupações. Por que ele negava sua condição clínica? No decorrer do livro não só entendi, mas compreendi que foi esta perseverança e a sua disciplina de atleta, que fez diferença, que o fez lutar bravamente, enfrentando um tratamento pesado e sofrido.
Durante a leitura eu costumo destacar algumas passagens. Aqui destaquei muitas e selecionei estas para compartilhar com vocês. A garra, a intensidade e as emoções deste jovem homem me emocionaram muito.
"Perguntava-me por que eu sentia esse impulso de me esforçar até meu máximo. Acredito que a resposta é que eu precisava de um estímulo mais radical para evitar que, sem uma meta, meu interesse pelo esporte morresse, que a chama do prazer e da aventura se apagasse. A vida nos testa, nos chama de todos os lados."
Quando começou o tratamento para tratar o linfoma agressivo, toda sua técnica de preparação, sua condição de atleta, ajudaram a enfrentar seu tratamento. Sua postura frente à vida foi determinante para a cura, tenho certeza disso.
"Acredito que a resiliência é um treino, e pelo esporte consegui fazer com que ela fosse parte de todos os aspectos da vida. Isso me valeu muito no enfrentamento da doença. O treino está nas mãos de cada um e pode ser não só
pelo esporte, mas por algo a que você se dedique verdadeiramente, sem desistir, sem nunca abrir mão. Ela nos torna bem mais fortes em termos emocionais."
David é um paciente diferenciado, tem consciência de que sua condição de tratamento é privilegiada e deixa isso claro, o que achei bem bacana, mas ao mesmo tempo ele passa por todas as vulnerabilidades de um paciente que se depara com o diagnóstico de câncer. Seu relato é franco e direto. Ele explica que inclusive depois do câncer passo a ser mais gentil com seu corpo.
"Quando ouvimos o diagnóstico “câncer”, é difícil não pensar na morte. Sim, todos sabemos que ela virá um dia, mas parece que, nesse momento, ela fica muito próxima, quase palpável."
Um profissional mega competente e com uma carreira brilhante que precisou ser desacelerada para poder tratar-se. David não deixou de trabalhar e acredito que isso também tenha contribuído para manter-se útil e produtivo.
Outro fator imprescindível abordado pelo autor, foi a rede de apoio dos familiares e dos amigos, assim como do seu chefe. Esta rede mostrou-se determinante para que David sentisse que não estava sozinho nesta difícil empreitada. O papel da esposa, sempre por perto, da família, pai e irmão médicos. Ele tem um casal de gêmeos, que na época do tratamento eram crianças e não entendiam bem o que estava acontecendo com o pai. O tratamento trouxe um novo olhar à sua vida.
"A correria da vida faz com que a gente, infelizmente, esqueça algumas coisas importantes – a doença me fez parar para enxergar melhor os outros e ver como as relações precisam ser mantidas com atenção dos dois lados."
"A vida que levamos é muito corrida, cheia de tarefas e, no dia a dia, a gente não procura os outros e acaba se distanciando. Hoje tento ser mais proativo, ligar ou mandar mensagem para todo mundo, perguntar se está tudo bem, manter as conexões. Gostaria de continuar assim."
Eu sempre reforço que o emocional é que vai determinar o enfrentamento do quadro clínico e esta passagem me deixou muito feliz, eu também acredito nisso.
"Penso novamente no tanto que o otimismo é importante, principalmente em momentos difíceis. Com ele, criamos um ambiente positivo para nós mesmos e para aqueles que nos rodeiam. Minha sorte é que sou otimista por natureza. No entanto, hoje acredito que, numa hora como essa, mesmo pessimistas, podemos dar muito mais ouvidos ao anjinho que ao diabinho, como durante uma competição. Afinal, a busca pela cura é um tipo de prova."
O chefe dele, Dan, deu a maior força ao seu tratamento e propôs que juntos participassem de um Iroman após o término do tratamento. Para isso criou o projeto de incentivo #IronMan2019 #ThisIsAMission. O objetivo deste projeto era sensibilizar outros amigos e familiares que quisessem participar com eles da prova ou simplesmente enviar boas energias naquele momento, que ele tanto precisava. Para isso, Dan mandou confeccionar pulseirinhas de borracha, que passaram a ser objeto de desejo entre os conhecidos. A única condição para receber uma seria tirar uma selfie e postar nas redes sociais com a hashtag #ThisIsAMission. Eu achei esta ideia incrível e fiquei emocionada ao ver as fotos da hashtag.
Durante o tratamento Dan deixou de ser o chefe de David. Mesmo em tratamento, David teve a chance de uma promoção e substituiu seu agora ex-chefe. A relação com sua equipe também mudou, ele se tornou mais próximo dos seus colegas.
No posfácio me identifiquei com Dan, que estava acima do peso e passou a se cuidar e se preparar para acompanhá-lo nesta prova que exige tanto esforço físico e mental. Confesso que fiquei empolgada e motivada para me mexer mais também!
Além de relatar sua história, David tem um propósito lindo com este livro. Os direitos autorais da obra serão revertidos para a ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia. Recomendo que você visite o site do livro, lá tem informações importantes, inclusive entrevistas com médicos.
O livro, muito bem escrito, é uma injeção de ânimo e de superação. Foi uma leitura fluida, intensa, reflexiva e que me fez muito bem. Recomendo muito.
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