Resenha: Guardei no Armário | Samuel Gomes | Editora Paralela

Olá !
Hoje trago a resenha do livro Guardei no armário, de Samuel Gomes, Editora Paralela, Grupo Companhia das Letras.

Dividido em duas partes, na primeira Samuel conta sua história de vida. Narrado em em primeira pessoa, a escrita do autor é muito clara e fluida. Isso faz com que o leitor se sinta mais próximo dele, pelo menos eu me senti assim. Senti uma empatia e uma grande simpatia por ele e sofri muito com seu depoimento.

O livro é bem escrito, franco e direto. Samuel aborda aspectos da sua vida que contribuíram para as dificuldades que vivenciou desde cedo. Mostra três eixos principais: ser negro, periférico e gay. Foi criado na Congregação Cristã do Brasil e desde cedo preciso conviver com dilemas, dúvidas e incertezas.

Se questionou durante muito tempo sobre pecado, sobre infligir as orientações e diretrizes da sua igreja.

O capítulo O Que a Igreja diz, foi um dos que mais me chamou a atenção. Ao ler este capítulo pude perceber como o autor se sentia sozinho, deslocado e cada vez mais em dúvida sobre como lidar com a sua sexualidade perante à sua igreja e família.

"Era corriqueiro escutar, em algumas pregações, pastores comparando a vida de homossexuais à de criminosos ou até de assassinos. Já ouvi alguns pais dizerem que prefeririam um filho ladrão a um filho gay, pois só o primeiro teria a chance do perdão divino."

Com cuidado, de forma clara e sem subterfúgios traz reflexões interessantes sobre o impacto dos dogmas religiosos na sua vida. Desde a não aceitação dos seus traços étnicos (não podia deixar o cabelo crescer, usar barba, entre outras proibições), até a questão do racismo em si.

Um fato interessante, que me chamou muito a atenção. Samuel percebe poucos colegas negros na sua congregação e as questões de gênero não tinham o menor espaço. Todos os rapazes eram orientados e se casarem com moças da mesma igreja.

"...Existe uma anulação muito grande das tradições africanas quando você faz parte de uma Igreja evangélica. O afro e toda a bagagem que isso carrega são tomados de preconceitos. Aos poucos, fui percebendo as consequências que a falta de referências causou em mim."

Sempre dedicado, curioso e esforçado, Samuca estudou, trabalhou com mídia indoor e em 2015 criou o projeto Guardei no armário, no YouTube. Hoje é escritor, palestrante, criador de conteúdo e foi eleito Top Voices ano passado pelo LinkedIn. Uma carreira bonita, para alguém tão carismático.

No final da primeira parte do livro, há o depoimento do pai de Samuel. Um texto lindo e emocionante que me deixou com o coração mais apaziguado, após esta forte leitura.

A segunda parte é formada entrevistas com pessoas LGBTQI com forte trabalho nas mídias sociais. Depois de ler, fui visitar cada perfil, para conhecer os seus trabalhos. Achei bem interessantes estes depoimentos.


A capa é linda e eu também adorei a foto do Samuel na quarta capa. Edição caprichada e bem cuidada da Paralela. Revisão impecável e ótima diagramação. Páginas amarelas e letras em tamanho confortável para leitura.
Ficou curioso? Quer ler também? Me conta.


Guardei no Armário
Autor: Samuel Gomes
Ano: 2020
Páginas: 304
Editora: Companhia das Letras
Minha avaliação: 4/5
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