Demerara | Wagner G. Barreira | Editora Instante
A Instante é uma editora que mora no meu coração. Acompanho com carinho seus lançamentos e seu trabalho sério e diferenciado. Quando eu soube deste lançamento, motivos para querer ler Demorara não faltaram. Amo livros com temáticas históricas e adoro livros escritos por jornalistas. Além disso o livro aborda a questão da gripe espanhola, que eu sempre acompanhei com curiosidade e agora, com a pandemia de Covid-19, se tornou ainda mais atual.
E assim mergulhei nesta leitura. Antes de começar eu já sabia que ia gostar dela e não me decepcionei, muito pelo contrário, foi uma leitura densa, sofrida e ao mesmo tempo necessária.
Numa mistura de ficção com romance histórico, vamos acompanhar a vida de Bernardo desde seu nascimento na Galícia, norte da Espanha. O menino que perdeu os pais cedo, foi criado num orfanato da cidade. Aos 18 anos ganha a liberdade e vive solto pela cidade, de pequenos bicos e delitos, até receber um convite inusitado, embarcar no Demerara.
Demerara é o nome do navio que o traz para Santos, numa viagem sem planejamento e sem vontade. Me encantei com o livro já no seu título, forte e potente, conduz o protagonista a um novo e desconhecido destino.
A peste os encontra em alto mar e atinge boa parte dos passageiros e tripulação. A ignorância do tema e do poder destruidor da doença, o medo das pessoas, a sensação de se sentir perdidos e impotentes são muito bem trabalhadas na trama.
E infelizmente nos remete aos dias de hoje. São sentimentos muito parecidos com os que vivenciamos com a pandemia do Covid-19. No enfrentamento da gripe espanhola, distanciamento social e uso de máscaras também eram os recursos mais efetivos, ou seja neste tempo todo, pouca coisa mudou.
Wagner fez um trabalho minucioso de pesquisa que traz ao livro um ótimo embasamento teórico. Sua escrita é elegante, fluida e muito interessante. Fiquei muito envolvida e emocionada durante a leitura e simplesmente devorei o livro.
O mais interessante é saber que Bernardo é o avô paterno do autor e dele pouco se sabia além do fato de ter vindo da Espanha. Partindo do ponto de vista histórico, Wagner constrói uma narrativa, uma ficção que tenta recriar a sua vida a partir do ponto de vista do neto e que funciona super bem, resultando num livro gostoso de ser lido, embora com uma trajetória triste e solitária. Foi uma homenagem muito bonita a este avô desconhecido.
Como neta de imigrantes também, só que de italianos, Demerara me trouxe reflexões importantes e me fez conversar com meu pai para tentar reconstituir os primeiros passos dos meus bisavós e avós, na chegada ao Brasil. A única coisa que me marcou muito das lembranças desta época, foi a minha avó materna contar que a sua mãe perdeu uma das irmãs na travessia da Itália, que era ainda uma bebê e que foi jogada no mar, que morreu por causa da "peste" dita assim, bem baixinho.
Escrito em primeira pessoa, me senti mais próxima de Bernardo com este recurso, sofri e vivenciei suas dúvidas, amores, falta de expectativas, vida difícil e cheia de obstáculos. Assim também a esperança de uma vida nova, embora o desejo de voltar à sua terra natal tenha permeado toda a trama.
A edição do livro merece um destaque muito especial. Linda e muito caprichada, como são todas as edições da Instante. Gosto muito do seu formato (13,5 cm x 20,5 cm). Ótima diagramação e revisão impecável. Páginas amarelas e fonte em tamanho confortável para leitura. O prefácio é de Laurentino Gomes
Eu adorei a capa, achei muito bonita e representa muito bem a trama e o título. As ilustrações da capa continuam na segunda, terceira e quarta capa, criando uma sensação muito interessante de continuidade. A designer Fabi Yoshikawa contou alguns detalhes sobre concepção desta capa, que teve ilustração de Juliano de Oliveira Moraes:
"Homem e navio são personagens indivisíveis na história de DEMERARA. Na arte da capa, exploramos a conexão entre suas figuras, fazendo com que uma emergisse da outra, sendo a embarcação a lembrança vívida do passado do protagonista e uma influência por toda a sua vida. Em uma leitura subliminar, a fumaça densa que sai da chaminé do navio remete ao ar contaminado pela gripe espanhola. A sombra sinistra que cobre a quarta capa e invade a parte interna do livro também serve como alusão aos tempos soturnos da Primeira Guerra Mundial."
Recomendo muito esta leitura para quem gosta de um bom romance histórico e de literatura nacional, das boas. Leia e me conta o que achou, eu vou adorar saber.
Sobre o autor
Wagner G. Barreira nasceu em São Paulo, em 1962, cidade onde vive com seus três filhos. É jornalista, trabalhou na revista Veja, no jornal O Estado de S.Paulo e teve passagens por TV Cultura, Jornal do Brasil e revista Aventuras na História. Foi o primeiro diretor editorial de mídias digitais da Editora Abril. Também atuou como professor de Técnicas de Reportagem e Teoria do Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 2018, escreveu a biografia Lampião & Maria Bonita: uma história de amor e balas (Editora Planeta).
Demerara
Autor: Wagner G. Barreira
Ano: 2020
Páginas: 152
Editora: Instante
Livro cedido pela editora
Minha avaliação: 5/5
Adicione no Skoob
Para comprar: Instante | Amazon
E assim mergulhei nesta leitura. Antes de começar eu já sabia que ia gostar dela e não me decepcionei, muito pelo contrário, foi uma leitura densa, sofrida e ao mesmo tempo necessária.
Numa mistura de ficção com romance histórico, vamos acompanhar a vida de Bernardo desde seu nascimento na Galícia, norte da Espanha. O menino que perdeu os pais cedo, foi criado num orfanato da cidade. Aos 18 anos ganha a liberdade e vive solto pela cidade, de pequenos bicos e delitos, até receber um convite inusitado, embarcar no Demerara.
Demerara é o nome do navio que o traz para Santos, numa viagem sem planejamento e sem vontade. Me encantei com o livro já no seu título, forte e potente, conduz o protagonista a um novo e desconhecido destino.
"Aquele navio era um pouco como a minha vida. Estava em movimento, cercado de muita gente, e ainda assim sozinho no oceano."
A peste os encontra em alto mar e atinge boa parte dos passageiros e tripulação. A ignorância do tema e do poder destruidor da doença, o medo das pessoas, a sensação de se sentir perdidos e impotentes são muito bem trabalhadas na trama.
E infelizmente nos remete aos dias de hoje. São sentimentos muito parecidos com os que vivenciamos com a pandemia do Covid-19. No enfrentamento da gripe espanhola, distanciamento social e uso de máscaras também eram os recursos mais efetivos, ou seja neste tempo todo, pouca coisa mudou.
Wagner fez um trabalho minucioso de pesquisa que traz ao livro um ótimo embasamento teórico. Sua escrita é elegante, fluida e muito interessante. Fiquei muito envolvida e emocionada durante a leitura e simplesmente devorei o livro.
O mais interessante é saber que Bernardo é o avô paterno do autor e dele pouco se sabia além do fato de ter vindo da Espanha. Partindo do ponto de vista histórico, Wagner constrói uma narrativa, uma ficção que tenta recriar a sua vida a partir do ponto de vista do neto e que funciona super bem, resultando num livro gostoso de ser lido, embora com uma trajetória triste e solitária. Foi uma homenagem muito bonita a este avô desconhecido.
Como neta de imigrantes também, só que de italianos, Demerara me trouxe reflexões importantes e me fez conversar com meu pai para tentar reconstituir os primeiros passos dos meus bisavós e avós, na chegada ao Brasil. A única coisa que me marcou muito das lembranças desta época, foi a minha avó materna contar que a sua mãe perdeu uma das irmãs na travessia da Itália, que era ainda uma bebê e que foi jogada no mar, que morreu por causa da "peste" dita assim, bem baixinho.
Escrito em primeira pessoa, me senti mais próxima de Bernardo com este recurso, sofri e vivenciei suas dúvidas, amores, falta de expectativas, vida difícil e cheia de obstáculos. Assim também a esperança de uma vida nova, embora o desejo de voltar à sua terra natal tenha permeado toda a trama.
Eu adorei a capa, achei muito bonita e representa muito bem a trama e o título. As ilustrações da capa continuam na segunda, terceira e quarta capa, criando uma sensação muito interessante de continuidade. A designer Fabi Yoshikawa contou alguns detalhes sobre concepção desta capa, que teve ilustração de Juliano de Oliveira Moraes:
"Homem e navio são personagens indivisíveis na história de DEMERARA. Na arte da capa, exploramos a conexão entre suas figuras, fazendo com que uma emergisse da outra, sendo a embarcação a lembrança vívida do passado do protagonista e uma influência por toda a sua vida. Em uma leitura subliminar, a fumaça densa que sai da chaminé do navio remete ao ar contaminado pela gripe espanhola. A sombra sinistra que cobre a quarta capa e invade a parte interna do livro também serve como alusão aos tempos soturnos da Primeira Guerra Mundial."
Recomendo muito esta leitura para quem gosta de um bom romance histórico e de literatura nacional, das boas. Leia e me conta o que achou, eu vou adorar saber.
Sobre o autor
Wagner G. Barreira nasceu em São Paulo, em 1962, cidade onde vive com seus três filhos. É jornalista, trabalhou na revista Veja, no jornal O Estado de S.Paulo e teve passagens por TV Cultura, Jornal do Brasil e revista Aventuras na História. Foi o primeiro diretor editorial de mídias digitais da Editora Abril. Também atuou como professor de Técnicas de Reportagem e Teoria do Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 2018, escreveu a biografia Lampião & Maria Bonita: uma história de amor e balas (Editora Planeta).
Demerara
Autor: Wagner G. Barreira
Ano: 2020
Páginas: 152
Editora: Instante
Livro cedido pela editora
Minha avaliação: 5/5
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