Entrevista Com o Autor Wellington Torres Jr.

 

Olá!! 
Hoje é dia de entrevista aqui no blog. Meu convidado é o autor Wellington J. C. Torres Jr
Wellington nasceu em Ilhéus-BA, em 1969, mas vive desde a sua infância no Espírito Santo. Trabalha há 29 anos como designer e ilustrador 2D e 3D. Já cedo, mostrou-se inclinado à arte e ao desenho,o que o levou na juventude a participar de diversos festivais nacionais e um internacional na cidade de Bruxelas em 1994. Casado com Sheila e pai do Felipe. Sempre esteve inquieto com uma questão que o acompanhava: “Por que histórias protagonizadas por cadeirantes não podem ser divertidas?” Resolveu então, aos 17 anos, quebrar este paradigma criando seu primeiro trabalho com a temática. O personagem de HQ Gazoo, um cadeirante irônico, de bem com a vida e que por meio de suas aventuras, levava seu autor a expôr o lado divertido da vida, mesmo em uma cadeira de rodas. Para ele, BERK é a cereja do bolo.

Conheci o trabalho do autor, ao receber seu convite para ler seu lançamento Berk, pela Editora Chiado. Além de talentoso, Wellington é muito atencioso e topou o convite para esta entrevista. Vamos conferir?

Entrevista
1) Olá Wellington, por favor, apresente-se para os nossos leitores.
Wellington: Sou Wellington J C Torres Jr, Designer, ilustrador, escritor. Mas acima de tudo alguém que gosta de sorrir, conversar e contar histórias. Sou a soma de várias pessoas: meus pais, irmãos, amigos, colegas de trabalho, esposa e filho. Digo isso por me entender assim, peguei o melhor do que recebi de cada um e me moldei, acrescentando é claro, meus sonhos, desejos e a busca de tomar as melhores decisões por meio de sabedoria, que peço sempre e acredito vir de Deus.

2) Como você concilia o trabalho como designer, ilustrador e escritor?
Wellington: Eu trabalhei muito tempo fora de casa em agências, mas já há dezoito anos, montei meu Home Office e daí ficou mais fácil conciliar todas as atividades. Descobri neste período de pandemia que já estou em quarentena e isolamento social há muito tempo. Risos!

3) Como surgiu a ideia de escrever “Berk”?
Wellington: Pode parecer estranho, ou curioso, mas BERK veio para mim pronto. Uma noite sonhei toda a história, acordei e disse à minha esposa que tive um sonho que daria um filme (pretensão né?), mas começaria por escrever só um livro por enquanto.

4) Berk traz dois personagens deficientes físicos, portadores de uma síndrome genética. É um livro autobiográfico? Foi inspirado na sua história? Conte um pouco mais sobre o processo de criação do livro.
Wellington: Sim e não. Tem muitas referências de minha vida e minha experiência como cadeirante, mas não é biográfico. Como disse, a base toda da história veio de um sonho que tive, mas creio que no fundo era um reflexo de um desejo de ver cadeirantes sendo protagonistas de uma aventura, aventura mesmo. Então comecei pegando o sonho e dividindo em trechos que seriam mais fáceis de trabalhar isoladamente, adicionei humor, aventura, suspense e romance, os organizei em uma cronologia, depois preenchi os espaços, dando fluidez à narrativa. Foi um processo bastante divertido, pois muitas vezes me flagrava rindo sozinho enquanto escrevia.

5) Como foi o processo de ilustração?
Wellington: Eu queria ter feito todas as ilustrações em 3D, como fiz a capa, mas tive receio de demorar muito e eu me desmotivar e abandonar um projeto inacabado, pois só na capa foram 70 horas de trabalho, então optei por um outro estilo para as ilustrações internas que ficaram muito legais, mas confesso que pelo fato de ser extremamente exigente, ficou uma pontinha de “nossa! Esta parte em 3D seria fantástica!” Mas eu de qualquer forma, sinto muito prazer em folhear o livro e ver o resultado final.

6) Eu achei muito bacana a inserção de QR Codes no livro, conte um pouco mais sobre este processo.
Wellington: Eu queria abordar questões sobre pessoas com deficiência, mas não queria que fosse na história, para não correr o risco de cair no clichê ou desviar o foco do que é central no livro, que é a aventura vivida por Berk, sua família e amigos. Então adotei o QR Code como artifício para inserir conteúdos extras, curiosidades e informações que refrescassem um pouco a visão das pessoas sobre a temática da deficiência. Por exemplo, artes marciais. Pouquíssimas pessoas sabem que acontecem campeonatos de artes marciais para pessoas com deficiência, ou que existem acrobatas cadeirantes PROFISSIONAIS!

7) Me chamou muito a atenção a tecnologia futurista utilizada por G, pai de Berk, para a criação de objetos muito especiais. Onde você se baseou, como foram estas pesquisas?
Wellington: Praticamente todas as tecnologias descritas no livro existem e em um futuro não muito distante farão parte, em maior ou menor medida, do cotidiano das pessoas. O que fiz, foi me inteirar destas e fazê-las interagir para que G (o pai de Berk) alcançasse seu intento. Mas repito, nenhuma tecnologia foi idealizada de forma ficcional, todas, absolutamente todas existem!

8) Este é seu primeiro livro e antes você escreveu duas histórias em quadrinho com o personagem Gazoo. Conte um pouco mais sobre este projeto.
Wellington: Como disse anteriormente, como cadeirante, me incomodava a ausência de protagonistas de aventuras que fossem - vou usar uma expressão estranha, mas é o melhor que posso dizer... - “protagonistas com deficiência, que fossem normais”, sem superpoderes ou algo que o valha. Queria ME VER em aventuras, e não apenas em histórias tristes ou de exemplo de superação. O Gazoo é isso, um personagem cadeirante que criei aos 17 anos. Irônico, de bem com a vida, com dias bons e maus, como qualquer um. Mas principalmente um cara que vê a vida com olhos coloridos e leves. Como eu creio que a vida deve ser vivida. Eu diminui um pouco a produção do Gazoo, mas podem conhecê-lo no Instagram do personagem.

9) A família é o eixo central do livro, conte um pouco sobre a sua família.
Wellington: Eu acredito que o ponto forte para minha inclusão na sociedade começou em minha casa, sempre contei com o apoio e incentivo de meus pais e irmãos. Minha família imigrou do nordeste para o sudeste quando eu tinha pouco mais de um ano, por isso me considero mais capixaba do que baiano. E além do incentivo que sempre tive, meus pais me deixaram como legado, a mensagem de que o conhecimento é a alavanca para se levantar o mundo. Eu tomei isto como regra de vida e com todas as dificuldades que passamos, foram os estudos que possibilitaram a mim, superar as “limitações” que meu físico me impunha. A educação faz você ter a compreensão que seu limite, sempre pode ir para um pouco mais pra frente. E foi minha família que me deu confiança para exercitar esta visão de vida, e hoje continuo recebendo este “push”, através de minha esposa e filho.

10) Você é baiano e capixaba de coração, como é sua rotina?
Wellington: Eu sempre fui muito disciplinado, e preciso ainda mais desta disciplina trabalhando em home office. Acordo por volta de 7:00 e ainda na cama faço todos os dias, ao menos 10 minutos de alongamento, e durante este período aproveito para fazer minhas reflexões e orações. Durante a semana, normalmente levanto antes de minha esposa, preparo nosso café, assisto o noticiário matinal e depois inicio meu horário de trabalho. E é bom trabalhar em casa! Por vezes estou travado em algum processo criativo, então me permito sair, tomar alguns minutos de sol, ver o pé de jabuticaba, ouvir os passarinhos que nos visitam e como um passe de mágica, o cérebro destrava. Temos que entender que a vida pode ser muito boa, basta fazê-la mais simples. Claro, nunca teremos controle de tudo, e nem sempre tudo serão flores, mas mesmo diante de problemas, se tivermos uma visão mais simples da vida, nada será grande demais, nem nossos medos.

11) Dois personagens fofos são Ligeireza e Locão, a tartaruga e o cachorro de Berk. Você tem animais de estimação? Se inspirou em algum para criar esta dupla tão improvável e tão bacana?
Wellington: Sim, sempre tivemos animais de estimação. Locão é o improvável, qual cadeirante em sã consciência teria um cão de quase 1,20 de altura? Desde o Gazoo eu imagino esta estranha simbiose! Risos. Já a Ligeireza, pensando bem, acho que ela é autobiográfica, ela tem muito de mim. Risos!

12) Você pensa em fazer uma continuação para Berk?
Wellington: Achei que a história tem um fechamento de ciclo tão legal que não sei se caberia uma continuidade, ao menos hoje e por enquanto, não. Acho que esta história ainda tem um caminho a trilhar.

13) Como é o seu contato com os leitores?
Wellington: Sou um autor novo (apesar da idade), e a experiência desta relação ainda é pouca, mas muito animadora, pois tanto Gazoo quanto Berk fizeram as pessoas terem uma visão mais acertiva e acessível sobre mim, e sem restrição de idades. Adoro conversar com crianças e jovens, e escrever pra eles é uma delícia!

14) Você tem uma rotina de escrita? Escreve todos os dias?
Wellington: Quando comecei Berk, segui minha característica de disciplina e escrevia ao menos 2 horas por dia antes de fechar meu expediente e por vezes este horário se estendia em função da empolgação em concluir um determinado trecho. Quando quero levar a cabo um projeto, seja escrever, ilustrar ou aprender um software novo eu sou metódico e PRECISO ser constante, por isso sim, estas atividades acabam se tornando diárias, até concluí-las.

15) Você escuta músicas quando escreve? Se fosse montar uma playlist para Berk como ela seria? Que tipo de música teria?
Wellington: Sim, muitos trechos do livro têm suas próprias trilhas sonoras. Para citar algumas, a cena do catá de G foi ao som de “Victory” de Thomas Bergersen e a do final quando Berk está no Half Pipe a trilha sonora é “Little Lion Man” do grupo Mumford and Sons! Releia estes trechos ouvindo estas músicas e depois me diz o que achou. Isto é spoiller? Risos.

16) Você pretende escrever/ilustrar outros gêneros literários também? Conte sobre projetos em andamento e/ou futuros.
Wellington: Tenho 2 outros livros na cabeça, em ambos também os protagonistas serão pessoas com deficiência. Um será uma ficção científica, onde é justamente o fato do protagonista ter deficiência que viabilizará a continuidade de existência da raça humana (terá uma pitada de filosofia) e será uma literatura mais densa. O outro seguirá a linha infanto juvenil e terá uma pegada mais steam punk. Mas estão no armário por enquanto. Meu foco agora é solidificar a estrada para Berk.

Papo rápido
Um livro: Vou sugerir uma trilogia. A trilogia cósmica de CS Lewis. Não tenho como separá-los, ou escolher um só deles. (1. O Planeta Silencioso 2. Perelandra e 3. Aquela força medonha)
Um filme: Cidadão Kane
Um ator/atriz: Meryl Streep
Um personagem: Yoda
Um desejo: Clichê mas... Um pouco de paz para o mundo.
Gosto de: Sorrisos. Isso vale?
Uma frase: Que meu limite seja sempre um pouco mais adiante.

Você pode acompanhar o trabalho do Wellington através das redes sociais: Instagram e SITE. Quero agradecer a sua disponibilidade e atenção, e desejar muito sucesso a este autor querido.




Comentários

  1. Claudinha, que entrevista maravilhosa! Comprei o e-book e já estou maravilhada com a história de Berk. Já pensando em comprar o físico pra ler com os sobrinhos!
    Amei conhecer um pouco hoje sobre a história e o trabalho do Wellington Torres Jr.
    Xero,
    Drica.

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