Resenha: As Bruxas da Noite | Ritanna Armeni | Editora Seoman



Eu AMO livros sobre a segunda guerra mundial e como filha de piloto, livros sobre aviação sempre me chamam a atenção, então quando soube deste lançamento da Seoman, fiquei doida para ler também. Confesso que me surpreendeu muito nunca ter ouvido falar sobre estas mulheres, corajosas e destemidas aviadoras russas e durante a leitura entendi o porque deste desconhecimento. Explico aqui para você.

Em 1941 durante a segunda guerra mundial, um grupo de jovens moças, a maioria inexperiente em aviação, forma o grupo 588 sob o comando da Coronel Marina Raskova. Cerca de 400 jovens que tornam-se pilotas, navegadoras, armeiras e mecânicas. Já pensou um batalhão só de mulheres? No início além da inexperiência, enfrentam a descrença e o preconceito de seus colegas homens. Um grupo formado exclusivamente por mulheres que pilotavam apenas durante as noites, pequenos aviões de madeira chamados de Polikarpov, que azucrinavam os alemães e foram chamadas por eles de "bruxas da noite".

O livro é narrado pela autora italiana, Ritanna Armeni e é baseado nas entrevistas que ela conseguiu realizar com a última "bruxa" viva. Irina Rakobolskaja, física, autora de mais de 300 artigos científicos e que foi a vice-comandante deste regimento tão especial. Aos 96 anos, lúcida, recebeu a autora e uma amiga dela, que também é tradutora, Eleonora, para contar os detalhes desta aventura fascinante, que mais parece ter saído de um belo e fantasioso enredo cinematográfico, mas que foi real, completamente verídico.

As bruxas eram jovens russas, que deixaram as famílias para trás, atendendo a convocação de Stalin e bravamente combateram o inimigo com muita criatividade, sangue frio e coragem. Infelizmente até hoje são desconhecidas pela maioria do mundo, inclusive em seu país de origem. Este país que as condenou ao esquecimento e  ostracismo, por serem mulheres. Ao final da guerra, receberam suas homenagens e condecorações e foram compulsoriamente afastadas das forças armadas, não tiveram a opção de seguir a carreira militar.

Numa trama repleta de emoção, Irina narra as suas aventuras e de suas colegas, lutando contra o exército alemão. Jovens que não tiveram direito nem a uniformes próprios, que os adaptaram de seus colegas homens, inclusive as botas, vários números maiores que seus pés! Com criatividade e inteligência inventaram formas de se adaptarem às estas situações adversar e tem êxito nas suas missões. Têm e acreditam no slogan: "uma mulher é capaz de tudo".

Intercalando as conversas com Irina e as memórias que ela apresenta, a autora constrói um livro vigoroso, delicioso, cheio de passagens pitorescas, arriscadas, com muitas emoções, perdas, lágrimas, mortes, mas também com muita camaradagem, com trabalho sincronizado, responsável e que funcionou muito bem, dadas as condições adversas que elas enfrentavam.

    "No entanto todas as noites as bruxas voam e bombardeiam. Sem tréguas, sufocando as lágrimas e o cansaço. Resistindo aos momentos terríveis, quando são ofuscadas pelos refletores, ensurdecidas pela artilharia antiaérea e cercada pela escuridão. Quando respiram com dificuldade, são sacudidas pela tosse, não conseguem distinguir entre o céu e a terra e não sabem direito para onde conduzir o aeroplano. Se perderem essa mínima orientação, se a experiência e o espírito de sobrevivência não as acudirem, se não houver amizade, empatia e uma relação de confiança entre a pilota e a navegadora, com um avião como o Polikarpov é fácil esfacelar-se no solo, incendiar-se ou cair atrás das linhas inimigas."

No total realizaram 23 mil voo, 1.100 noites de combates. Uma das bruxas realizou 1.100 voos, outra fez até 10 voos na mesma noite! Que loucura, que coisa mais estupenda e que triste que tudo isso ainda seja desconhecido, que elas não sejam tratadas como heroínas, ao contrário de seus colegas homens, simplesmente lamentável.

O livro tem momentos de ternura, de muita camaradagem entre as personagens. Não é piegas, nem triste em excesso. Gostei do tom que a autora encontrou para fazer esta bonita homenagem e trazer à luz estas mulheres inspiradoras e que merecem todo nosso reconhecimento e admiração.

Fiquei tocada com a história e emocionada quando Irina conta que todo ano, em 2 de maio, as sobreviventes se reuniam para prestar homenagem às que já tinham partido e matar as saudades das amigas. Que aquele ano não teria o tradicional encontro, porque ela era a última bruxa, a única que restou viva depois de todo tempo. Tocante e forte esta passagem.

Eu fiquei encantada com a trama. A escrita da autora é muito boa e o fato da história ser narrada em terceira pessoa do singular, mas no presente e não no passado, chama a atenção. Me manteve focada na trama, que simplesmente devorei. Adorei a capa, achei a edição da Seoman caprichadíssima, com vários aviõezinhos na  capa e contracapa. Gostei das cores escolhidas, boa diagramação, revisão impecável.

Terminei a leitura, mas a leitura ficou em mim. Confesso que fiquei chocada com o tratamento dado às estas mulheres tão especiais com o termino da guerra. Fui pesquisar na internet, ver as fotos destas personagens tão reais, tão interessantes. Te convido a fazer este exercício também, após a sua leitura.

Uma história inspiradora, cheia de coragem, ousadia e muita união. Somos apresentadas a  momentos marcantes, a uma equipe muito, muito especial, que com sangue, suor e lágrimas, defendeu seu país, lutou,  arriscou a vida diariamente e infelizmente não recebeu o que merecia, o devido reconhecimento e homenagens. Fica aqui a minha. Leia este livro inspirador, acho que você pode gostar tanto quanto eu, adorei.


As Bruxas da Noite
Autor: Ritanna Armeni
Tradutor: Karina Jannini
Ano: 2019
Páginas: 248
Editora: Seoman
Livro cedido pela editora
Minha avaliação: 5/5
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Para comprar: Seoman

Comentários

  1. Oi Clauo! Simplesmente linda sua resenha. Eu também nunca ouvi falar sobre as aviadoras na época da Segunda Guerra Mundial! Achei muito interessante saber que elas lideravam os vôos noturnos, muito diferente. Adoro esse tipo de leitura e vou incluir na lista. Beijos! Karla Samira

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