Eu Li: Crocodilo

Olá queridos leitores!
A resenha de hoje é do livro Crocodilo, escrito por Javier A. Contreras, lançamento da Companhia das Letras.

Sinopse
Hoje, meu filho Pedro pulou da janela do seu apartamento. Assim começa o romance de Javier A. Contreras, um relato ágil e surpreendente sobre o suicídio e a angústia dos que permanecem. Ao contar a história dos sete dias que se seguem à morte de Pedro, o autor embarca em uma narrativa única, que aborda temas como a relação pai-filho, o caos do mundo moderno e as expectativas que nutrimos e frustramos no decorrer da vida. Com uma linguagem moderna e de ritmo fluido, os sentimentos de Ruy, pai de Pedro, são trazidos à superfície em um misto de raiva e desolação. Ao perder o único filho, Ruy reavalia não só sua relação com a paternidade, mas com todo o mundo a sua volta.
Neste mês temos o #JaneiroBranco, mês de prevenção da saúde mental e conscientização de prevenção ao suicídio. Por isso escolhi este livro para dar minha contribuição a este projeto bacana. Eu estava doida para ler este livro, pois li críticas ótimas sobre ele e tinha gostado muito da sinopse. Que leitura sensacional! Primeiro livro que leio do Javier, autor brasileiro, muito elogiado.

Crocodilo é um livro bonito, delicado e sensível, que fala sobre um tema muito, muito difícil e triste, o suicídio. Um tema que é um grande tabu ainda hoje, que desperta nos familiares sentimentos como vergonha e inconformismo. A grande maioria das mortes por suicídio, não são notificadas como tal, muitos preferem categorizá-las como acidente ou causa desconhecida, segundo o autor.

Ruy é casado com Marta e pai de Pedro, único filho do casal. O livro começa com a descoberta do suicídio de Pedro, que se atira da janela do seu apartamento. Em meio a incredulidade da situação chocante, às tentativas de entender o último gesto do filho, Ruy e Marta mergulham num abismo de dor, torpor e lembranças.
"As pessoas acham que podem entender, mas não têm a menor idéia do que se passa na cabeça de um pai que perde um filho assim. Um filho que não morre. Um filho que se mata. Elas veem filmes e novelas que tratam do suicídio e acham que é mais ou menos daquele jeito. Mas não é. A realidade é menos romântica. É uma mistura de sentimentos ruins. Culpa, raiva, decepção, ressentimento vulnerabilidade, pânico, tudo junto. O amor, nessa hora não chega nem perto."
Javier aborda a dificuldade das pessoas em admitir e em nomear o suicídio e o impacto dele na família e nos amigos.
Valendo-se da sua experiência de jornalista, Ruy, um profissional renomado e experiente, tenta reconstituir os últimos passos do filho, reencontrar as pessoas com quem conversou. Quem era Pedro? Um rapaz talentoso, carinhoso com os pais e amigos, profissional premiado, então, por que? Qual era a peça que não se encaixava?

A investigação é uma forma de não lidar ou de suportar sua dor? Através deste caminho estranho, Ruy tem a oportunidade de "conhecer" seu filho, facetas totalmente desconhecidas. O livro é sobre Ruy, sobre a relação com a paternidade. Um pai que se descobre ausente, ao contrário da mãe, que tinha uma relação muito mais próxima do filho.
"...qual é a definição de um pai que perde o filho?...Não existe! É uma espécie de tabu social e linguístico. Não existe uma definição porque, em tese, não é natural um filho morrer antes dos pais, entende?" 
Crocodilo é feito de flashbacks e lembranças, ternas, por vezes divertidas, por vezes intensas. Num ritmo ágil, Javier mostra os sentimentos contraditórios deste pai, as suas emoções confusas. Uma montanha russa de sensações. Javier "tempera" emoções com dados sobre suicídios no mundo, são dados impressionantes.
"A cada quarenta segundos, em média, uma pessoa se suicida no mundo...estima-se que ocorra e 10 milhões a 20 milhões de tentativas de suicídio por ano. Estima-se também que esse número cresça, e que 1,5 milhões de pessoas se matem em 2020."
A escrita de Javier é muito, muito boa . A leitura é fluida e muito interessante, apesar do tema pesado. Devorei o livro.
Gostei muito da simbologia do livro. Crocodilo, que dá título ao livro, é recorrente na trama. O livro me fez pensar e me deixou muito reflexiva.

Achei a capa linda, diagramação excelente da Companhia das Letras, que sempre arrasa, páginas amarelas, revisão impecável.

Embora o tema seja muito pesado, o livro não é nada piegas, nem demasiado triste, é um livro sobre a esperança e sobre o amor. Um resgate do amor de um pai. Um livro profundo, vigoroso, muito bem escrito. Eu adorei e super recomendo esta leitura inspiradora. Vou recomendar também para o nosso Clube da Leitura.
Sobre o autor
Javier A. Contreras nasceu em 1976. Ex-repórter policial, escreveu Imóbile, finalista do Premio São Paulo de Literatura. Em 2012, foi escolhido pela revista Granta como um dos vinte melhores jovens escritores brasileiros
Crocodilo
Autor: Heloisa Seixas
Ano: 2019
Páginas: 168
Editora: Companhia das letras
Classificação 5/5
Livro cedido pela editora
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